domingo, 5 de novembro de 2023

 




 




...



Devia ser sábado, 
passava da meia-noite. 
Ele sorriu para mim. E perguntou:
- Você vai para a Liberdade?
- Não, eu vou para o Paraíso.
Ele sentou-se ao meu lado. E disse:
- Então eu vou com você.

 Caio F de Abreu

Eu te amo


Eu amo os milhares de sorrisos que você tem, 
e toda paz que eles transmitem ao meu coração. 
Eu amo tuas risadas, tuas piadas sem graça 
e tuas tentativas de me tirar do sério. 
Eu amo a tua cara enciumada, o bico que você faz 
quando fica emburrado ou pedindo beijo. 
Eu amo quando você para e fica me olhando em silêncio, 
e quando você me deita sobre teu peito e me faz carinho. 
Quando você entrelaça tuas mãos nas minhas 
e segura forte como quem não quer soltar. 
E sei que não vai… Eu amo quando te vejo chegando 
no portão para me buscar. E o teu abraço apertado, 
que encaixa os nossos corações como duas peças de um quebra-cabeça. 
Eu amo acordar com o teu “bom dia” e “eu te amo”. Eu amo chegar no final do dia e receber um telefonema seu, e passar horas contando como foi o dia um do outro, dividindo histórias e segredos. Eu amo quando você concorda quando eu digo que somos melhores juntos. E amo ouvir de você planos e sonhos de uma vida à dois. Eu amo ser tua. E amo te sentir meu. Te saber meu. Cada parte de você. Tudo em você… Eu amo. Eu te amo. Para sempre
— Caio F

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

♥ Vem navegar na minha vida

 

Vem navegar na minha vida
Faça de conta que meu corpo é um rio,
Faça de conta que os meus olhos são a correnteza,
Faça de conta que meus braços são peixes
Faça de conta que você é um barco

E que a natureza do barco é navegar.
E então navegue, sem pensar,
Sem temer as cachoeiras da minha mente,
Sem temer as correntezas, as profundidades.
Me farei água clara e leve.

Para que você me corte lenta, segura,
Até mergulharmos juntos no mar
Que é nosso porto."
— Caio F 

__oriente__

 


manda-me verbena ou benjoim no próximo crescente
e um retalho roxo de seda alucinante
e mãos de prata ainda (se puderes)
e se puderes mais, manda violetas
(margaridas talvez, caso quiseres


manda-me Osíris no próximo crescente
e um olho escancarado de loucura
(um pentagrama, asas transparentes)


manda-me tudo pelo vento;
envolto em nuvens, selado com estrelas
tingindo de arco-íris, molhado de infinito
(lacrado de oriente, se encontraste)"

"Stone song"


(Porto Alegre, 1996)

Eu gosto de olhar as pedras
que nunca saem dali.
Não desejam nem almejam
ser jamais o que não são.
O ser das pedras que vejo
é só ser, completamente.
Eu quero ser como as pedras
que nunca saem dali.
Mesmo que a pedra não voe,
quem saberá de seus sonhos?
Os sonhos não são desejos,
os sonhos sabem ser sonhos.
Eu quero ser como as pedras
e nunca sair daqui.
Sempre estar, completamente,
onde estiver o meu ser.

— Caio F




"

sexta-feira, 21 de julho de 2023

♦♠♣

 



 

♥♥



E se você vem, fica tudo maior,
mais amplo, sei lá, 
mas é como se eu existisse 
de um jeito mais completo.

— Caio F Abreu



“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, 
mas queria te dizer pra não parar de remar, 
porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também. 
Tá me entendendo? Eu sei que sim”.


quinta-feira, 30 de março de 2023

Que as perdas sejam medidas em milímetros
e que todo ganho não possa
ser medido por fita métrica
nem contado em reais.
Que minha bolsa esteja cheia
de papéis coloridos e desenhados
a giz de cera pelo anjo que mora comigo.
Que as relações criadas
sejam honestamente mantidas
e seladas com abraços longos.
E que seja doce tudo que tiver que ser.”



— Caio F. Abreu

quarta-feira, 30 de novembro de 2022



"Ando tropeçando em absurdos.
Em desassossegos também. 
Tem gente que tirou o mês pra me chatear, 
me colocar pra baixo, 
me jogar em cima 
um amontoado de energias ruins. 
Tem gente que tem esse dom. 
De não ser feliz 
e querer enferrujar o sorriso alheio."

 — Caio F. Abreu

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Poema sem titulo (Caio F)

 

Eu quero a vida.
Com todo o riscos
eu quero a vida.
Com os dentes em mau estado
eu quero a vida
insone, no terceiro comprimido para dormir
no terceiro maço de cigarro
depois do quarto suicídio
depois de todas as perdas
durante a calvície incipiente
dentro da grande gaiola do país
de pequena gaiola do meu corpo
eu quero a vida
eu quero porque quero a vida.
É uma escolha. Sozinho ou acompanhado, eu quero, meu
deus, como eu quero, com uma tal ferocidade, com uma tal
certeza. É agora. 
É pra já. Não importa depois. 
É como a quero.
Viajar, subir, ver. Depois, talvez Tramandaí. 
Escrever. Traduzir. Em solidão. 
Mas é o que quero. Meu Deus, a vida, a vida, a vida.
A VIDA
À VIDA

Ferver 77º



Deixa-me entrelaçar margaridas
nos cabelos de teu peito.
Deixa-me singrar teus mares
mais remotos
com minha língua em brasa.
Quero um amor 
de suor e carne
agora:
enquanto tenho sangue.
Mas deixa-me sangrar teus lábios
com a adaga de meus dentes.
Deixa-me dilacerar teu flanco
mais esquivo
na lâmina de minha unhas.
Quero um amor 
de faca e grito
agora:
enquanto tenho febre.
O poema acima é dos mais belos exemplares 
da poesia erótica de Caio Fernando Abreu. 
Composto em 14 de janeiro de 1975, 
vemos uma lírica explícita, 
que desafia o leitor ao expor 
os desejos do eu-lírico com uma crueza ímpar.




Caio escreveu os versos acima em pleno contexto da ditadura militar.
O poema, datado de 2 e 3 de maio de 1979,
desafiava na altura o status quo durante os anos de chumbo
ao ousar falar de liberdade.