quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Ferver 77º



Deixa-me entrelaçar margaridas
nos cabelos de teu peito.
Deixa-me singrar teus mares
mais remotos
com minha língua em brasa.
Quero um amor 
de suor e carne
agora:
enquanto tenho sangue.
Mas deixa-me sangrar teus lábios
com a adaga de meus dentes.
Deixa-me dilacerar teu flanco
mais esquivo
na lâmina de minha unhas.
Quero um amor 
de faca e grito
agora:
enquanto tenho febre.
O poema acima é dos mais belos exemplares 
da poesia erótica de Caio Fernando Abreu. 
Composto em 14 de janeiro de 1975, 
vemos uma lírica explícita, 
que desafia o leitor ao expor 
os desejos do eu-lírico com uma crueza ímpar.