Deixa-me entrelaçar margaridas
nos cabelos de teu peito.
Deixa-me singrar teus mares
mais remotos
com minha língua em brasa.
Quero um amor
de suor e carne
agora:
enquanto tenho sangue.
Mas deixa-me sangrar teus lábios
com a adaga de meus dentes.
Deixa-me dilacerar teu flanco
mais esquivo
na lâmina de minha unhas.
Quero um amor
de faca e grito
agora:
enquanto tenho febre.
O poema acima é dos mais belos exemplares
da poesia erótica de Caio Fernando Abreu.
Composto em 14 de janeiro de 1975,
vemos uma lírica explícita,
que desafia o leitor ao expor
os desejos do eu-lírico com uma crueza ímpar.